quinta-feira, 23 de maio de 2013

RASTROS DE ÓDIO E A GESTÃO DE EQUIPES.

Adoro o filme Rastros de Ódio, The Searchers, de John Ford com John Wayne e Nathalie Wood, maravilhosa no papel de Debbie, a sobrinha raptada e motivo de toda a busca ao longo das duas horas de excelente narrativa e não tão brilhante posicionamento ético.

O filme discute de forma mais ou menos direta a questão do racismo com os Ameríndios (para usar um termo politicamente correto). O roteiro em si leva a uma conclusão mais ou menos aceitável, onde finalmente se atinge a aceitação de Debbie mesmo tendo sido esposa de um chefe Comanche, entretanto o "recheio", principalmente do posicionamento de Ethan (Wayne) sobre os índios resvala em situações limite.

Mas vamos nos lembrar de que o filme é de 1956, talvez o mais clássico dos Westerns, onde o que se buscava era um bom divertimento e muitos índios mortos na tela.

Filmado em Monument Valley, Utah, o que explica as paisagens maravilhosas (para quem gosta de deserto), o filme é baseado na história de Cynthia Ann Parker, mãe de Quanah Parker, o último grande chefe da tribo comanches. Por incrível que pareça  uma história real, que em sua versão original foi muito mais dramática que na tela.

Seja lá como for, o Blog é sobre gestão empresarial e uma das imagens que mais utilizo para demonstrar o uso racional de recursos, principalmente equipes de trabalho, vem deste clássico, que se você não assistiu, vale a pena passar na locadora e conferir.

Em determinado momento, Ethan e o grupo de homens que foi em busca dos índios que atacavam os ranchos dos colonizadores, descobre que eles foram atraídos para a perseguição aos Comanches como uma forma de armadilha, para que as casas ficassem sem a proteção dos homens mais qualificados para a defesa e desta maneira os índios poderiam fazer o ataque aos colonos de forma mais tranquila.

Neste momento todos os cavaleiros decidem voltar para casa a toda velocidade, mesmo estando afastados de sua origem em quase um dia de cavalgada. Ethan é o único que desmonta e avisa a todos para fazerem o mesmo, uma vez que os cavalos da maneira como estavam não conseguiriam cumprir a etapa e chegarem ao destino inteiros ou pelo menos vivos.
Mesmo a frente de todo o terror que um ataque de índios inspirava, e mesmo na conformidade de uma estória onde a tragédia se aproxima, o racional a fazer era descansar e alimentar o cavalo. Na cena seguinte vemos todos os outros cavaleiros andando a pé no deserto, com sede e cansados, enquanto Ethan passa por todos, em seu cavalo, a galope, inteiro, apenas para chegar mais cedo na cena do massacre.
Poupar os cavalos não é fácil!
Exige disciplina, foco e conhecimento da capacidade que está enraizada na equipe. Exige também coragem por parte do líder, que pode posteriormente ser criticado por haver poupado recursos ao longo da jornada e não ter atingido o resultado exatamente por haver poupado esforços no momento definitivo da questão.

Tenho visto e vivenciado os dois momentos.

Já errei por poupar recursos quando poderia ter tentado algo mais forte junto à equipe e eventualmente atingido o objetivo. Entretanto na maior parte das vezes tenho visto o contrário. Equipes que não atingem o objetivo determinado por conta do esgotamento dos recursos antes do momento definitivo. A gerência média das empresas tende a ser conservadora em sua tomada de decisão. Frente à possibilidade de não cumprir um determinado objetivo por falta de "mão de obra" / esforço, decide sempre por exagerar no quesito esforço, deixando de lado o quesito planejamento e programação.
Se eventualmente uma parte da equipe desiste, ou alguns são vítimas de stress, ataques do coração, colapsos nervosos, sempre é possível acusá-los de não estarem preparados para o desafio que se apresentou. Na maior parte das vezes, os gerentes e supervisores se orgulham em contar o número de colaboradores que foram afastados por esgotamento, estafa, etc.
Parecem entender que tais ocorrências são fruto de uma gestão dura e exigente da parte deles e é isto que se deveria esperar de um gestor médio.
Trata-se de lamentável engano, muito disseminado por ai.

Os gestores que matam os cavalos, são em sua grande maioria, os mesmos que não atingem os objetivos, morrendo na praia. Me apresente um gestor que "chegou perto" de seus últimos objetivos, sem entretanto atingi-los, e vos apresentarei, na maioria das vezes, alguém que possui em suas equipes um alto índice de "turnover", alguém que possui dificuldade em manter os talentos sob sua batuta e alguém que se orgulha por "trabalhar muito".
Fiquem atentos ao ritmo e cadência daqueles que estão sob sua liderança. Facílimo seria se todos fossem iguais e tivessem a mesma capacidade para resistir, insistir e performar sob condições adversas. A capacidade de gerenciar , motivar, cobrar e acompanhar a equipe é o elemento diferencial entre os gerentes medíocres e aqueles que colecionaram bons resultados ao longo dos anos.

A coragem para poupar as equipes quando estas devem ser poupadas, bem isto é uma questão de coragem e coragem é inerente ao ser.