terça-feira, 13 de dezembro de 2011

INFORMAÇÃO É FUNDAMENTAL, ANÁLISE TAMBÉM... (Estratégia 10)

            Informação é um ponto fundamental na formulação da estratégica.

O tempo todo trabalhamos com algumas informações exatas, algumas informações que podem ser deduzidas a partir das primeiras e algumas informações que ficam faltando e em relação às quais temos que assumir premissas para fechar as lacunas de um plano.

A ênfase em "algumas" na frase acima não é acidente. Não espere o leitor encontrar em momento algum da formulação da estratégia um jogo completo de informações precisas e detalhadas sobre o ambiente, seja na empresa, na guerra ou em explorações geográficas do início do século XX.

Amundsen planejando o "ataque" ao Polo.
A qualidade da análise que leva a estas premissas é outro fator fundamental na formulação da estratégia.

Em nosso exemplo, todos os envolvidos sabiam que as temperaturas nos Pólos são brutais, todos sabiam que os meios de transporte eram limitados, todos sabiam quanta energia um homem consome andando durante todo o dia em baixas temperaturas. Todos podiam deduzir a partir daí a quantidade e tipo de roupa que um homem precisa para sobreviver. Também podia ser feito um cálculo da quantidade de comida a ser levada por homem e por dia, bem como do peso de uma cabana ou de quantos homens cabem em uma cabana. Estas são as informações que podiam ser coletadas ou deduzidas a partir daquelas inicialmente conhecidas. A partir de um jogo muito parecido de informações como as que estão no parágrafo acima, tiveram que ser formuladas as premissas básicas de cada uma das estratégias.

Creio que é nesta fase que as coisas se definiram a favor de Amundsen e contra Scott. Há autores que procuram mostrar que o resultado da corrida foi determinado pela qualidade da liderança oferecida por Amundsen e não tão oferecida por Scott. Não acredito nisto. Ao ler os relatos em primeira mão de cada um dos exploradores, fica claro que existe uma diferença de estilos e qualidade na liderança. Porém um deles redigia a história de uma vitória estupenda, após a vitória ter sido alcançada, enquanto outro narra uma série de desventuras e tragédias em seu diário, sem a possibilidade de revisar ou enquadrar os fatos dentro de uma realidade de vitória parcial. O diário de Scott foi encontrado oito meses após sua morte e publicado sem revisões conhecidas.

Há claros registros de que Scott era complacente em sua gestão e muito limitado em sua capacidade de aprender com a experiência, enquanto Amundsen era exatamente o oposto. Entretanto creio que o grande diferencial de Amundsen em relação a Scott era como analista e planejador. A qualidade de seu planejamento foi fundamental para o resultado final. Scott poderia com uma liderança mais adequada ter conseguido salvar seus homens, mas não teria conseguido chegar ao Pólo antes de Amundsen. Scott morreu a um dia de distância de um grande depósito de alimentos, 17 quilômetros, em uma corrida de mais de 3.000. Poderia ter "ganho" este dia por meio de uma série de atitudes e decisões que teve oportunidade de tomar.

Chegou ao Pólo trinta e quadro dias depois de Amundsen, tendo partido apenas cinco dias depois. As escolhas de Scott fizeram sua viagem vinte e nove dias mais longa que a de Amundsen, isto no trajeto de ida!

A diferença básica para mim, repito, é que Amundsen "sabia"que o ambiente no pólo era mais agressivo que sua capacidade de permanecer lá muito tempo, pelo menos no tocante à arrancada final. Assim ele assumiu a premissa que poderia sobreviver durante algum tempo contando com os equipamentos adequados.

Uma vez definida ou assumida esta premissa, a de que ele não poderia suportar um período maior que X tempo naquela temperatura, a única opção de sucesso seria realizar a tarefa em tempo menor que X dias. Sua segurança e êxito se encontravam na certeza de poder concluir a ida e volta em tão poucos dias quanto possível. Todas as outras decisões foram tomadas em consoante com esta definição. Assim Amundsen tomou sua decisão estratégica de fazer o "ataque" ao Pólo de maneira muito rápida. Logo ir a pé estava totalmente fora de questão, e tal fato não era visto da mesma maneira por Scott que fez a maior parte da viagem rebocando o próprio trenó. A viagem de Scott previa que a maior parte do percurso seria feita utilizando tração humana. Além de lento este processo consumia muita energia.

Amundsen conhecia os Esquimós e suas técnicas.
Amundsen conhecia os esquimós de suas explorações anteriores ao Pólo Norte, e através destes sabia do potencial do uso de trenós puxados a cães polares (na realidade algo parecido a um lobo com pelagem mais pesada e forte adaptação ao meio ambiente). Uma vez escolhido este meio, Amundsen aparelhou sua empreitada com elementos que fossem adequados à sua estratégia. No grupo de cinco exploradores que chegou ao Pólo, quatro eram mestres em navegação, podiam se orientar e utilizar os mais diversos instrumentos para saber onde se encontravam. TODOS eram habilidosos esquiadores sendo que um deles era o campeão norueguês de esqui. TODOS eram mestres na arte de lidar com cães e trenós. TODOS eram navegadores e exploradores experientes. TODOS haviam sido escolhidos por sua atitude e comportamento que já havia sido exaustivamente testado anteriormente.

Note-se que há uma cascata de decisões que ficam muito fáceis de serem tomadas, depois que se define a premissa básica de uma estratégia.

Se a estratégia empresarial for a de "preço baixo", por exemplo, já sabemos que pontos luxuosos, propagandas sofisticadas e serviços exclusivos são táticas que estão fora do baralho.

Scott por sua vez acreditava que seria possível passar bastante tempo nas condições do pólo, bastava que tivessem os equipamentos certos, as pessoas certas e o "espírito" adequado. Em seu plano de ataque ele iniciaria a corrida em novembro, calculando 144 dias para as 2.500 km (linha reta) isto significaria estar de volta em 27 de março. Para se ter uma noção de o quão tarde isto seria, ...Amundsen, embora infinitamente mais bem preparado, com peles de lobo e de urso para as piores condições possíveis, recusou-se até mesmo a considerar a hipótese de retornar ao Franheim (sua base de inverno) depois do final de janeiro...

Scott sabia por acesso tanto aos dados, quanto ao explorador, que era inglês e fora seu subordinado em uma exploração anterior, que Shackleton quase havia perecido por ter retornado no início de fevereiro. Ele conhecia a epopéia do ataque ao Pólo Sul porque ele mesmo havia tentado atingi-lo seis anos antes, quase tendo morrido de escorbuto. Naquela ocasião a maior parte da viagem foi feita utilizando tração humana para rebocar os trenós com mantimentos. Assim, seguindo sua premissa, que aparentemente descartou conhecimentos adquiridos previamente, preparou uma equipe com os equipamentos e suprimentos que achou adequados, providenciou meios de transporte para todo o equipamento necessário. Deu atenção ao fato de que os obstáculos serem espetaculares, e, em decorrência, os equipamentos e número de pessoas para sobrepujá-los tinha que ser o "adequado". O "adequado" sob este ponto de vista pode se tornar pesado.

A aposta na tração humana foi decisiva.
Cães, de acordo com Scott, não "poderiam" transportar os pesados trenós de Scott. Na verdade não havia nenhum especialista em cães na expedição de Scott e ele mesmo confessa em seu diário ter dificuldade em lidar com as ordens por terem que ser dadas em russo, já que os cães vieram parcialmente treinados por alguém que não estava na equipe. Apesar de ter levado ao Pólo tanto cães quanto pôneis e tratores, Scott previa utilizar em seu "ataque" final, a partir de um determinado momento, somente a tração humana.




Dadas as mesmas premissas assumidas na mesma situação, todos exploradores teriam tomado mais ou menos as mesmas decisões. A análise do ambiente de Scott estava errada, ou "menos certa" que a de Amundsen. Não haveria naquela ocasião equipamentos e mantimentos suficientes para fazer face aos desafios impostos pelo desgaste no gelo, da ausência de mantimentos ou de maneiras de se obtê-los.

Ao analisar a questão chego à conclusão de que as estratégias resumidas seriam.

Amundsen
Scott
Premissa sobre as barreiras e dificuldades a serem enfrentadas:As barreiras são colossais, logo teriam que entrar e sair muito rapidamente. Cada parcela de energia poupada seria uma parcela a ser utilizada no "ataque"

As barreiras são colossais, mas com espírito e equipes corretas vamos sobrepujá-las. Tudo que necessitamos é uma equipe de homens fortes e comprometidos.
Estratégia adotadaCães leves, rápidos e adaptados à terra;
Equipe pequena;

Mantimentos com larga margem de erro para cada etapa; Planejaram e comeram quando planejado os cães;

À medida que não precisavam de algo, descartaram ou comeram.
Pôneis pesados, lentos e não adaptados à terra;
Equipe muito maior que a de Amundsen;
Mantimentos restritos ao que pode ser transportado;
Levaram "tudo" sempre.
Em grande parte do percurso puxaram os trenós.Carregaram 16 kgs de amostras de rochas até o ponto em que morreram.
ParticipaçãoO mínimo indispensável de homens irá até o final.
Reduziu a equipe inicialmente programada para ganhar tempo pela manhã.
Iniciou o "ataque" com... homens. Devolveu 2 homens para a base. Perdeu 1 no início, no retorno, e todos no final.
ResultadosFoi o primeiro no pólo.
Não perdeu nenhum homem.Todos voltaram para casa mais gordos que saíram.
Foi o segundo no pólo;
Perdeu todos os homens do ataque, inclusive a própria vida.

Olhando para o quadro notamos que quase todas as decisões foram tomadas em direção e sentidos opostos umas às outras.

Chamarei novamente a atenção para o fato que julgo fundamental: uma das equipes decidiu que os obstáculos eram muito severos para serem sobrepujados por um longo período, a outra acreditava que com os componentes certos e espírito adequado seria possível sobrepujar o frio e as dificuldades de transporte. Hoje sabemos que a abordagem de Amundsen provou ser a adequada naquele momento e local.

Eis o primeiro dos pontos importantes sobre as questões estratégicas, o prazo de validade das propostas é sempre determinado, para não dizer único. Não se trata de prazo curto ou longo, mas sim de que uma estratégia funciona enquanto os fatores que atuam sobre o ambiente e sobre os elementos da estratégia se mantêm similares.

Uma abordagem funciona aqui e agora. Se tentarmos repetir a mesma abordagem daqui a algum tempo em outro lugar, podemos ou não repetir o sucesso da empreitada. Trocando em miúdos, não há estratégia "pret-a-porter" ou abordagem "one size fits all".

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